“A acessibilidade só acontece quando temos desenvolvedores, designers e conteudistas fazendo a sua parte para que ela aconteça de fato. A importância de um jornalista é tão relevante quanto ao do programador”
Um estudo do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) do Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) divulgou que menos de 6% dos sites prezaram pela acessibilidade de pessoas com deficiência. Em outras palavras, praticamente 95% dos sites não são acessíveis. É diante desse cenário que se destaca Simone Freire, uma jornalista idealizadora de um movimento pela web acessível, uma comunicadora que batalha pela acessibilidade digital. Em 2016, Simone foi selecionada pela Goldman Sachs Foundation para participar do programa 10.000 Women, um projeto que mapeia mulheres que fazem trabalhos de transformação social.
A jornalista Simone Freire acredita que a maior dificuldade para que a internet seja acessível é a falta de informação. Existem leis como a Lei Brasileira de Inclusão, artigo 63, que por falta de interesse e fiscalização muitas vezes não são cumpridas. No Brasil, são 6,5 milhões de pessoas que declaram alguma deficiência visual, o que corresponde a 3,5% da população, já os deficientes auditivos representam 1,1%. Do total da população brasileira, 23,9% (45,6 milhões de pessoas) declararam ter algum tipo de deficiência, segundo o IBGE 2010. É uma parcela da população que também tem a necessidade de navegar na internet e consumir conteúdos de importância cultural, profissional e até econômica, a pesquisa Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2014 mostra que 57% dos cidadãos com deficiência do Brasil usam com frequência a internet.
As empresas, então, acabam desprezando a oportunidade de se relacionar com essa enorme parcela da população. O que, segundo David Caldwell, gerente de acessibilidade no Banco Barclays PLC, é um erro estratégico. David apresenta três elementos que ressaltam a importância da produção de conteúdos acessíveis pelas empresas, o primeiro é o elemento legal, existem leis que devem ser cumpridas, o segundo é o comercial, pois são pessoas dispostas a consumir os produtos e o terceiro é o elemento moral e ético da empresa na criação de produtos que não excluam essa parcela da sociedade.
Os profissionais que se dedicam em estudar e produzir para que a acessibilidade digital aconteça “podem trabalhar por propósito, sabendo que, no final do seu dia, tornaram seus produtos e serviços acessíveis para cidadãos que têm direitos, necessidades e desejos tanto quanto qualquer brasileiro sem deficiência”, finaliza Simone Freire.
É com esse intuito que Simone trabalha todos os dias em sua agência de comunicação, a Espiral Interativa, que prioriza uma comunicação inclusiva para produção de sites, aplicativos, campanhas de endomarketing, treinamentos, apresentações institucionais e gestão de seus canais digitais. “Todos os nossos profissionais são especialistas e sabem que aqui não têm lugar para quem não se sensibiliza com a causa da acessibilidade. É nossa missão e está em nosso DNA!”, declara Simone.
#Pracegover: Na foto, o fundo é de um muro de folhas verdes desfocado. No centro, a jornalista Simone Freire olha para a câmera e sorri. Simone é uma mulher de cabelos pretos e lisos até os ombros, ela veste um vestido preto com estampa de flores. Foto: Caroline Lima/Huffpost Brasil
O papel do jornalista para tornar a internet um ambiente acessível é essencial, diz a jornalista. Ela acredita que por falta de conhecimento sobre a temática, a maioria das pessoas presume que o desenvolvedor é o grande responsável por criar e manter um site acessível e isso não é certo. Os comunicadores precisam reconhecer e desempenhar o seu papel de fazer com que a informação seja acessível para todos. “A acessibilidade só acontece quando temos desenvolvedores, designers e conteudistas fazendo a sua parte para que ela aconteça de fato. A importância de um jornalista é tão relevante quanto ao do programador. Se ele não se preocupar em seguir as regras para produção de conteúdo acessível, não vai adiantar a página estar preparada pois um cego, por exemplo, não conseguirá “enxergar” as imagens caso não haja descrição”.
Simone conta que a relação mais recente da Espiral com uma empresa jornalística foi no primeiro semestre de 2018, quando o Estadão propôs uma parceria para criar o primeiro produto acessível, um projeto interno. “Foi muito gratificante ver a turma super jovem totalmente engajada, interessada e sensibilizada! Este tipo de parceria nos mostra que estamos no caminho certo e que temos muito para transformar pela frente ainda!” comenta Simone.
Além do trabalho na agência, ela criou a iniciativa “Movimento Web Para Todos”. O movimento produz relatórios e estudos sobre acessibilidade na web, abre espaço para conscientizar as empresas dos sites, oferecendo manuais de referência com as principais diretrizes e recomendações para práticas de comunicação mais inclusivas. http://mwpt.com.br/acessibilidade-digital/boas-praticas/
“O Movimento surgiu a partir de uma inquietude minha de levar todo esse conhecimento acumulado em dez anos para a sociedade. Por meio da Espiral, estávamos transformando pontualmente nossos clientes. Mas era pouco. Com a ideia do Movimento, ganhamos escala.”
Em um ano de vida, o Movimento já une quase 30 organizações parceiras na mobilização da sociedade pela acessibilidade digital, que se organizam por meio de palestras, eventos, debates, congressos, e na capacitação de profissionais como gerentes de projetos, desenvolvedores, designers e conteudistas. “Nós impactamos diretamente mais de 2 mil profissionais, realizamos mais de 1,5 mil testes de acessibilidade na plataforma e sensibilizamos presencialmente mais de 150 organizações! E temos certeza que estamos apenas começando”.