O grupo de pesquisa “Mídia Acessível e Tradução Audiovisual” (MATAV) marcou presença na XVI Jornada Multidisciplinar 2014, evento realizado na UNESP Bauru. A partir do tema “O Brasil e o Golpe de 1964: Retrospectivas e Perspectivas”, a Jornada procurou gerar reflexões sobre os 50 anos do início da ditadura militar. Entre os dias 20 e 22 de maio, ocorreram várias palestras, mesas temáticas, apresentações de trabalho e muito debate sobre a sociedade brasileira na época da ditadura.
Com enfoque nos portadores de deficiência visual, o MATAV exibiu um videoclipe com audiodescrição sobre os acontecimentos que marcaram o período entre o início da ditadura e as Diretas Já. A ideia do projeto é oferecer uma oportunidade para os deficientes visuais aprenderem mais sobre esse período tão marcante na história do Brasil e para os videntes conhecerem o recurso da audiodescrição.
Na apresentação do videoclipe, todos os participantes foram vendados: a proposta era que eles percebessem o vídeo somente com a audição, simulando uma situação de deficiência visual. Depois de alguns minutos, as vendas foram retiradas e os participantes puderam assistir o restante das imagens.
Guilherme, estudante do 1º ano de Rádio e TV, relata que achou interessante a experiência: “O som ganhou uma proporção muito maior. A música de fundo e as audiodescrições, por exemplo, ficaram bem vivas na minha mente. Eu não prestaria tanta atenção no que estava sendo dito se meus olhos não estivessem vendados”.

A docente Lucinéa Marcelino Villela, coordenadora do projeto, iniciou a mesa temática explicando que o videoclipe apresenta duas vozes diferentes, uma característica comum da audiodescrição. Uma pessoa é responsável pela locução do roteiro histórico, enquanto outra é responsável pela audiodescrição das imagens.
A produção do vídeo foi um trabalho em equipe, feito pelos membros do MATAV. Após a sua exibição, cada membro do grupo concedeu uma apresentação sobre a etapa de criação da qual participou.
Carolina Molina, aluna do 2º ano de Rádio e TV, explicou o conceito de audiodescrição, um recurso criado para incluir os deficientes visuais nos meios de comunicação. “É a descrição de tudo o que é visual e não está presente em diálogos. O objetivo é que as pessoas que não enxergam possam desfrutar uma obra do mesmo modo que os que enxergam desfrutariam”, explica. Além da audiodescrição de imagens, presente no videoclipe exibido, o recurso pode ser incluso em diversos outros meios, como filmes, obras de arte, teatro, paisagens, figurinos, ambientes etc. Carolina também ressaltou que a audiodescrição nunca pode ser colocada no mesmo tempo que os diálogos; ela tem que estar entre as pausas das informações sonoras para que a compreensão do ouvinte não seja prejudicada.
O roteiro e a locução de uma audiodescrição apresentam suas peculiaridades. Bruna Chaves, responsável por essas funções, explicou que a locução deve ser feita de forma calma, para o ouvinte assimilar o conteúdo descrito.“O locutor também tem a liberdade de mudar o roteiro, como trocar algumas palavras ou inverter termos. Por isso é importante que a imagem audiodescrita esteja presenta no roteiro”, pontua Bruna.
Giseli Berti, docente de língua inglesa e pesquisadora voluntária do MATAV, também participou da audiodescrição e disse que no processo não é recomendável apresentar juízos de valores.“Não é adequado dizer que a pessoa está triste ou feliz. Podemos falar apenas que ela deu um sorriso, mas não julgá-lo”, exemplifica.
No final das apresentações, os membros lembraram que o videoclipe não é um projeto terminado, mas que está em construção. A ideia é que o trabalho seja aprimorado com a consultoria de deficientes visuais e que, futuramente, seja exibido em outras apresentações e congressos.
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