Impressões sobre o 6º Festival Internacional de filmes sobre Deficiência “Assim Vivemos”
Lucinéa Villela
Finalmente tive a oportunidade de conhecer no Rio de Janeiro o “Festival Assim Vivemos”, bater papos pra lá de produtivos com audiodescritores e com a curadora e produtora Lara Pozzobon. Passei duas tardes-noites ótimas assistindo filmes que retratam os paradoxos de algumas doenças ou “diferenças biológicas” (cegueira, surdez, AVC, Mal de Huntington, Síndrome de Down etc). Digo paradoxos porque há uma alegria melancólica vivida por cada um dos protagonistas dos documentários que ali assisti.
Todas as sessões foram audiodescritas ao vivo por bons profissionais e as legendas para surdos estavam primorosas (Produtora 4 Estações).
O debate sobre “Surdez e Comunicação” foi tão agitado! Senti que havia várias línguas sendo faladas e sinalizadas, realmente estamos engatinhando ainda na Tradução no seu sentido mais embrionário e amplo.
Cheguei à conclusão de que pelo menos uma vez por ano, todos, digo TODOS NÓS, devemos passar alguns minutos assistindo trabalhos como os selecionados de forma perspicaz pelos produtores da Lavoro.
Voltei do Rio de Janeiro certa de que tradutores, profissionais da comunicação e do audiovisual possuem um espaço garantido na Acessibilidade Cultural. Voltei absolutamente convencida de que o Brasil entrou pela porta da frente no debate sobre deficiência e tem propriedade para falar sobre vários tipos de inclusão.
Seguem minhas breves impressões sobre três dos sete filmes que assisti. Todos são chocantes, mas só darei pílulas daquilo que vi, espero que em outubro nossos MATAVs possam participar do Festival em SP.
Ataque de emoção (Stroke a chord)
Duração: 26′
Diretor: Sarah Barton
Austrália / 2012
O filme apresenta relatos de uma equipe de músicos que montou um coral com sobreviventes do AVC. Ficamos sensibilizados ao ouvir e ver portadores de afasias sérias conseguirem cantar sem nenhuma dificuldade em uma apresentação em Londres.
Eu sinalizo, eu vivo (I sign, I live)
Duração: 80′
Diretor: Anja Hiddinga e Jascha Blume
Holanda / 2012
O jovem Jasha é estudante de artes e apesar da surdez, não deixa de brincar de ser DJ em baladas na Holanda. Ele entrevista idosos em visitas a única moradia européia para surdos e tenta descobrir como essas pessoas levaram suas vidas. Eles contam sobre sua juventude, quando a língua de sinais era proibida, e sobre sua luta contra constrangimentos e indignidades. As cenas em que Jasha dança com duas idosas surdas são brilhantes.
Improvisação livre (Free Improvisation )
Duração: 50′
Diretor: Doron Djerassi
Israel / 2011
Meu favorito! Jean Claude Jones é contrabaixista de vanguarda, mora em Jerusalém e dedicou sua vida à música. Há 20 anos Jean Claude foi diagnosticado com Esclerose Múltipla, assistimos como ele sofre ao ver sua criatividade musical em risco. O filme acompanha sua inusitada relação professor-aluno com o pianista prodígio de 11 anos Ariel Lanyi, que evolui para uma incomum e profunda amizade. Um filme sobre paixão, música, vida e o processo de “deixar rolar”.