Pioneira em audiodescrição é uma da convidadas da XXI Jornada Multidisciplinar em Bauru

Matéria de João Batista de Carvalho e Silva Signorelli

Lívia Motta apresentará palestra que destaca a importância e os desafios da acessibilidade para pessoas com deficiência visual no Brasil.

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#pracegover #pratodosverem: Fotografia colorida de Lívia Motta. Ela está sorridente, usa óculos, batom vermelho claro, veste uma camisa branca e um colar com várias voltas metalizadas e em pedras. 

Nos próximos dias 16 a 18 de setembro, ocorrerá no Campus de Bauru da UNESP, a XXI Jornada Multidisciplinar – 2019, que terá como tema a Crise nas Humanidades: Inclusão e Resistência em Tempos de Retrocesso. Além das diversas atividades e apresentações de Comunicações, Oficinas e Projetos, a FAAC receberá convidados especiais que em palestras e conferências irão destacar diferentes facetas do tema da Jornada 2019.  

Dentre estes, destaca-se Lívia Maria Villela de Mello Motta, que além de ter mestrado e doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), é audiodescritora, formadora de audiodescritores, e diretora da empresa Ver Com Palavras, que realiza audiodescrições para diversos tipos de espetáculos, eventos, e produtos audiovisuais e editoriais.

Lívia é a pioneira nesse recurso de acessibilidade no Brasil, tendo sido responsável pela primeira audiodescrição de uma peça de teatro e de ópera, além de ter organizado a primeira obra sobre audiodescrição e acessibilidade cultural no país, o livro “Audiodescrição: transformando imagens em palavras”. 

Este ano o Blog do MATAV entrevistou a audiodescritora, na ocasião em que audiodescreveu o desfile de carnaval no Sambódromo do Anhembi (link: https://matavunesp.wordpress.com/2019/03/05/desfiles-no-anhembi-tem-camarote-com-recursos-de-acessibilidade/

No evento da FAAC, apresentará a palestra “Audiodescrição e inclusão cultural: aprendendo a expandir o olhar”.

A palestra/oficina de Lívia Motta objetiva discutir e oferecer oportunidades de reflexão sobre a audiodescrição, recurso de acessibilidade comunicacional e modalidade de tradução audiovisual intersemiótica, que possibilita a expansão do olhar, transformando imagens em palavras e ampliando, desta forma, o entendimento e a experiência estética de pessoas com deficiência visual em espetáculos, eventos e produtos audiovisuais por meio de informação sonora. Além do conceito e das diferentes possibilidades de aplicação, serão apresentados também os avanços e dificuldades da implementação do recurso no Brasil.

Ela será realizada na Quarta-Feira, 18 de Setembro, às 8h30, no Auditório Adriana Chaves (Central de Salas), na Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicação (FAAC), no Câmpus de Bauru da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). 

 A palestra é gratuita e aberta ao público. 

Quem quiser receber CERTIFICADO deve fazer inscrição para a XXI Jornada Multidisciplinar na Secretaria do DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS (DCHU). Telefone (14) 3103-6064 

Há duas modalidades de  inscrições

Com APRESENTAÇÕES DE TRABALHOS de 22/08 a 05/09.

Para OUVINTES de 22/08 a 16/09.

Abaixo o link com todas as informações da XXI Jornada Multidisciplinar.

https://www.faac.unesp.br/?fbclid=IwAR1ABxS5QP5JCd_FtqD3P11VUHF6f0tFheo7ttrG4cXeTkAtxgMFy8WKpQ8#!/jornada-multidisciplinar-2019) .

Entrevista com Emmanuelle Alkmin Projeto Cozinhando às Cegas

 

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#paracegover #pratodosverem Foto colorida de Emmanuelle em um fundo com placa de cor de madeira clara com listras verticais. Manu olha sorrindo para a câmera. Ela usa brincos, batom vermelho claro e um vestido azul de mangas curtas. Há um microfone de lapela preso no lado esquerdo do vestido. No canto direito superior da foto, há um retângulo e dentro está escrito com letras brancas e em caixa alta “brigadeiro branco”. Na parte inferior da foto, há outro um retângulo centralizado com a frase “Cozinhando às cegas #03” com letras brancas e em caixa alta. Há três figuras de brigadeiros brancos na foto, dois estão no lado esquerdo superior, próximo da cabeça de Emmanuelle, o outro brigadeiro está localizado lado direito e próximo de seu braço.

Muita gente acha que uma pessoa com deficiência visual é incapaz de ter autonomia para tarefas rotineiras, como morar sozinha, cozinhar, fazer compras etc.

A advogada Emmanuelle Alkmin rompeu várias barreiras desde sua infância e comprova mais uma vez em seu programa “Cozinhando às Cegas” que a deficiência visual pode ser superada com muita criatividade.

O blog do MATAV entrevistou Emmanuelle para saber como surgiu seu novo projeto gastronômico. Uma das curiosidades que a ativista nos relatou é que a crise financeira no país e as dificuldades de inserção no mercado de trabalho fizeram com que ela começasse a cuidar literalmente de sua casa, desde faxina até cozinhar todos os dias. Segundo Emmanuelle:  “A primeira vez que utilizei o termo “cozinhando às cegas” foi em uma foto que coloquei em uma rede social de um strogonoff que havia feito. Houve muitos comentários. Muitas perguntas”. A partir daí, surgiu a ideia do programa, leia a seguir a entrevista cheia de otimismo da nossa nova chef.

MATAV: Como foi concebida a ideia do programa “Cozinhando às Cegas”?

EMMANUELLE: Começou bem por acaso. Lembro-me de uma palestra em que falava sobre superação de limites e enfrentamento do desconhecido, utilizei como exemplo uma torta que tinha feito, a dificuldade de colocar a massa líquida na forma, separar cada uma das metades etc.

 Quando terminei, muitas pessoas vieram falar comigo sobre o exemplo da torta. Uma delas me disse: “ Você precisa falar mais sobre isso, porque o que para você é óbvio, para gente não é.”

Percebi que as pessoas que enxergam, efetivamente, desconhecem o potencial das pessoas que não têm visão, simplesmente pela falta de conhecimento, pela falta de convivência, pela falta de exposição desse potencial. Fiquei pensando sobre isso durante bastante tempo.

É difícil ir para frente de uma câmera, ainda mais totalmente fora da minha zona de conforto. Comentei com a Bia Sartori (produtora do programa), quando ela estava saindo de um café que faço em casa, e, ela começou a sonhar! Sonhar efetivamente e delinear esse sonho! Até que surgiu o canal.

MATAV: Quantos episódios e quantas receitas a série terá?

EMMANUELLE: Queremos fazer quatro episódios mensais. Um por semana, toda terça-feira. Não temos o número definido. Terei em vários outros programas pessoas me ensinando a fazer alguma receita para demonstrar as dificuldades de conversa entre esses dois mundos na cozinha que é extremamente visual.

Não temos também o número definido de receitas, porque propositalmente, pedimos para as pessoas sugerirem.

Ainda é uma categoria no YOUTUBE em teste. Essas definições ocorrerão por meio de respostas aos estímulos recebidos dos internautas.

MATAV: Onde foram feitas as gravações do programa?

EMMANUELLE: As gravações são realizadas em pelo menos dois lugares diferentes, não sendo nenhum no meu apartamento. No vídeo da omelete, por exemplo, demonstro a dificuldade de utilização do fogão que é impróprio para utilização de pessoas com deficiência visual.

MATAV: Qual tem sido a repercussão da série tanto para o público com deficiência visual como para o público em geral?

EMMANUELLE: Faz pouco tempo que o programa está no ar, ainda estamos em fase de testes. Qualquer avaliação aqui, é meramente especulativa e baseada em sensações. A repercussão tem sido bem maior entre o público sem deficiência visual, porque, aliás, é a esse público que se destina.

MATAV: Vocês pensaram em inserir audiodescrição no programa?
EMMANUELLLE: Eu sou consultora em audiodescrição, então, isso sempre foi avaliado no projeto. Há dois fatores envolvendo a AD. O primeiro é que o público alvo é o público sem deficiência em geral e, como estamos fazendo tudo em parceria, ainda não é possível fazer um programa acessível com audiodescrição e Libras. O outro aspecto é que tenho a preocupação de falar muito durante o vídeo, para dar às pessoas com deficiência visual a exata noção do que estou fazendo.

Infelizmente, no Brasil, a comunicação inclusiva ainda é inacessível economicamente. Em outras palavras, os custos de uma comunicação para todos não acompanha a velocidade da produção de conteúdo hoje. O que tem ocorrido é o barateamento da tecnologia envolvida na produção de vídeo.

Há, pois, a necessidade de se discutir seriamente essa questão no âmbito da inclusão, porque se de um lado a universalização tecnológica permite a manifestação efetiva da liberdade do pensar e do expressar-se, há, cada vez mais, pela questão econômica, a exclusão desse ‘conteúdo livre’ de parcela significativa da população com deficiência auditiva e visual.

MATAV: Há outras situações, além da gastronomia, em que a pessoa com deficiência visual consegue ser autônoma e que também merecem ser temas de novos projetos?

EMMANUELLE: Com certeza há diversas outras situações em que poderia ser mostrada a autonomia da pessoa com deficiência visual. Contudo, para que consigamos fazer com excelência o que nos propomos, fechamos o leque e recortamos para a cozinha.

Cremos que a culinária aproxima as pessoas, promove uma zona confortável para desmistificar muitas questões relativas à deficiência visual, bem como traz, assim, um ambiente de transformação pessoal para quem assiste, levando o internauta a outras percepções, sensações e à necessidade de estar presente nas situações por inteiro.

Receitas da Manu

Omelete de aveia https://www.youtube.com/watch?v=C0Luqd0GQ1E&t=43s

Brigadeiro Branco https://www.youtube.com/watch?v=JOrmKqfWWfU

Dadinho de Tapioca https://www.youtube.com/watch?v=Ody6m6LiTHQ&t=89s