Nos últimos tempos, o campo dos avanços tecnológicos aplicados à saúde e à melhora da qualidade de vida vem se desenvolvendo num ritmo cada vez mais crescente. Entre as diversas pessoas que podem usufruir desses avanços está a categoria dos deficientes auditivos. Depois das conquistas do desenvolvimento de equipamentos básicos, que ampliam a capacidade auditiva de uma forma geral, como os AASI (Aparelhos de Amplificação Sonora Individual), o IC (Implante Coclear) e o Sistema Baha, chegou a vez de dispositivos que permitem um melhor aproveitamento em situações sonoras específicas, como em uma sala de aula ou reunião de trabalho. Este é o caso dos Sistemas FM (Frequência Modulada) para Aparelhos Auditivos, Implantes Cocleares e Sistemas Baha.
Os aparelhos auditivos convencionais e os Implantes Cocleares e Baha, apesar de contarem com todos os avanços tecnológicos das últimas décadas, muitas vezes não conseguem reproduzir integralmente a capacidade natural da audição humana de distinguir, selecionar e compreender determinados sons, principalmente os da fala, em um ambiente ruidoso. E é exatamente nesse contexto que o uso de um Sistema FM se torna vantajoso e essencial, pois permite o enfoque e a amplificação das emissões da fonte sonora escolhida pelo usuário.
Esse dispositivo, composto de um transmissor e um receptor de frequência modulada, permite a transmissão de ondas sonoras diretamente da fonte emissora para os receptores auditivos, evitando as barreiras físicas e mecânicas pelas quais o som normalmente enfrentaria para chegar ao seu destino. O receptor de FM é acoplado nos respectivos aparelhos do usuário, e o transmissor geralmente costuma ficar próximo à fonte emissora de sons (que pode ser outra pessoa, equipamentos eletrônicos como TV e rádio, entre outros). Dessa forma, há um melhor aproveitamento das mensagens sonoras para os usuários deste equipamento, alcançando um melhor desempenho junto aos AASI, IC ou Baha.
Os primeiros modelos dessa tecnologia datam de 1996 (época em que ainda estavam em fase experimental), e seu desenvolvimento e popularização no Brasil se deram principalmente na última década. Segundo Sandra Laranja, fonoaudióloga responsável pela franquia da Phonak em Bauru, atualmente o equipamento é indicado para qualquer usuário de Aparelhos de Amplificação Sonora Individual, de Implante Coclear ou de Sistema Baha que apresente dificuldades para compreensão da fala em ambientes ruidosos. “Qualquer aparelho auditivo, de qualquer marca e modelo (Retro, Intra, Micro), pode ser utilizado. Todos os modelos de IC também são compatíveis com o Sistema FM, através dos adaptadores ou sapatas”, afirma a profissional. Já Gabriela Fernandes, fonoaudióloga da empresa Starkey de São Paulo, também ressalta que não há contraindicações no uso do Sistema FM.
Sistemas FM e SUS, uma parceria necessária
O maior aproveitamento dos Sistemas FM pelos seus usuários se dá em ambientes escolares e de trabalho. De fato, se torna muito mais fácil o aprendizado para o aluno com deficiência auditiva quando os sons da fala de seus professores e colegas podem chegar de forma mais compreensível aos seus ouvidos. Pelo fato do preço de um Sistema FM, que varia entre R$7.000 a R$10.000, muitas vezes não ser acessível à grande parte da população brasileira, em junho de 2013 o Governo Federal incluiu o equipamento na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais fornecidos pelo SUS.
Para receber este aparelho através da Secretaria de Saúde e SUS, o usuário deve possuir entre 5 a 17 anos, fazer uso de AASI e/ou IC, estar matriculado regularmente em uma instituição de ensino (no nível Fundamental ou Médio), possuir domínio ou estar em fase de desenvolvimento da linguagem oral e apresentar desempenho em avaliação de habilidades de reconhecimento de fala no silêncio. Atendendo esses requisitos, os pais da criança deverão se dirigir à Secretaria da Educação de sua cidade e solicitarem os seus direitos.
Experiências de usuários do Sistema FM
Como exposto acima, usuários de todos os tipos de aparelhos auditivos e Implantes Cocleares e Baha podem fazer uso dos Sistemas FM. Porém, o grau do benefício variará de acordo com a perda auditiva. Portanto, cada usuário de FM relata diferentes impressões a respeito de suas experiências no uso do equipamento, que na maioria dos casos tendem a ser positivas.
Inclusive eu que aqui escrevo, Ana Raquel Périco Mangili, tenho minha própria experiência com o Sistema FM. Possuo perda auditiva bilateral moderada e sou usuária de AASI desde os meus dez anos. Percebi a necessidade de complementar minha capacidade auditiva ao entrar na Universidade. Sempre tive dificuldades em acompanhar a fala de professores e palestrantes, principalmente quando havia ruído de fundo ou quando os mestres se movimentavam muito durante a exposição do conteúdo, impedindo a minha leitura labial.
Com o uso do Sistema FM, obtive um ganho significativo em sala de aula. Minhas necessidades de contato visual com o professor e leitura labial diminuíram, pois com o FM a voz dos mestres chega aos meus ouvidos como se eles estivessem falando ao meu lado, sem a interferência da distância física. Assim, com menos esforço de concentração dedicada ao ato de ouvir, consigo fazer anotações do conteúdo ministrado nas aulas e me canso menos ao final do dia.
Já a mãe de Maryana Sobral Delasta, Andréa Sobral, relata que sua filha, de quatro anos de idade (e implantada desde o primeiro ano de vida), usa o Sistema FM há seis meses e tem um ganho muito bom com o aparelho, inclusive pedindo para usá-lo toda vez que vai à escola. Porém, Andréa faz uma observação: “O FM realmente ajuda muito os deficientes auditivos em ambientes ruidosos, já que o som chega limpo aos ouvidos. Mas se é preciso estimular o deficiente auditivo a reconhecer os sons, deve existir um limite para o uso desse instrumento. No caso da minha filha, ela só usa na escola, já que o barulho lá é intenso e ela precisa aprender e estar atenta a tudo”, afirma.
* Fontes das imagens: Starkey e Phonak.
* Por Ana Raquel Périco Mangili. Matéria adaptada e cedida pela parceria com a ADAP (Associação dos Deficientes Auditivos, Pais, Amigos e Usuários de Implante Coclear). Confira o texto originalmente publicado aqui.