Nos últimos dias 22 e 23, aconteceu na Unesp de Bauru o I Simpósio de Mídia Acessível e Audiodescrição. Realizado pelos grupos de pesquisa Mídia Acessível e Tradução Audiovisual (MATAV), coordenado pela Profa. Dra. Lucinéa Villela, e Linguagem e Mídias Sonoras (GELMS), com a Profa. Dra. Suely Maciel coordenando, o evento, que teve início às 14h da quarta-feira, contou com a presença de 55 inscritos entre estudantes e visitantes. Além disso, palestrantes realizaram ao longo dos dois dias atividades que tiveram a participação dos presentes, os quais também receberam Workshops de audiodescrição e locução.
A data do simpósio teve caráter simbólico, já que em outubro comemora-se mês da acessibilidade no Brasil. Com o intuito de debater como é o cenário da mídia acessível no país, a importância da produção de audiodescrição e o papel social que a universidade tem em relação à acessibilidade, o simpósio trouxe a tona a dificuldade que há em produzir e oferecer aos cegos e deficientes visuais condições para que aproveitem totalmente aquilo que é feito atualmente no campo da mídia, da arte e da comunicação.
A audiodescrição
Audiodescrição é um recurso que consiste em descrever objetivamente informações que são visivelmente passadas numa imagem (ou sequência de imagens). Tais informações não estão presentes em diálogos ou fundos musicais, mas nas expressões, nos movimentos, no ambiente, no tempo e espaço de uma cena, nas roupas, no físico, em efeitos especiais e até em créditos finais. O recurso nunca se sobrepõe às falas de um filme, por exemplo, sendo feita nos espaços entre elas.
Não é difícil notar sua importância. Dados de 2010 do IBGE junto à CORDE apontavam que quase 150 mil pessoas já haviam se declarado cegas entre 16,6 milhões com algum grau de deficiência visual. Ainda assim, pouco é divulgado, em espaços públicos comuns, sobre a audiodescrição. Um dos visitantes do Lar e Escola Santa Luzia para Cegos, em depoimento sobre suas experiencias, disse que “algumas audiodescrições são tão bem feitas que é como se eu estivesse enxergando”. Apesar disso, o investimento nessa área ainda não é suficiente para que todos os que precisam façam uso do recurso e, mais que isso, consigam também enxergar.
Seja por falta de planejamento, políticas públicas e até interesse, a audiodescrição, tão importante para quem necessita dela, não é ainda amplamente divulgada e fomentada; isso também acontece com outros tipos de recursos que garantem a acessibilidade mas não são massivamente valorizados. A audiodescritora e palestrante do simpósio Bell Machado aponta “A dificuldade [da produção e disseminação da audiodescrição] é a falta de políticas públicas que garantam o acesso aos bens culturais, embora haja muita gente de esferas como a municipal e a estadual trabalhando nisso”. “Esses recursos – continua- precisam de formação, ou seja, precisam de políticas públicas. Precisa-se, desde formar os audiodescritores até colocar rampas de acesso. A política pública possibilitaria essa formação, essa ampliação, atingindo todas as esferas até chegar ao deficiente”.
E a universidade?
O espaço da universidade pública é o espaço da integração. Ultrapassar as barreiras do conhecimento, não só acadêmico como pessoal, é uma das coisas a que se propõe esse tipo de instituição. Com a Unesp não é diferente. Embora a mídia acessível e a formação de profissionais da área ainda não seja uma realidade constante, a presença de grupos de estudo sobre a área já indica uma maior abertura; com o acontecimento de um simpósio, isso se intensifica.
Em um cenário onde há luta diária contra a exclusão de qualquer tipo, há de se lutar também contra a desinformação. Para que houvesse uma integração das partes que sempre se excluíram, historicamente, foi sempre necessário o uso da comunicação, essa que, em maior ou menor escala, atinge a todos, mesmo quando precisar ser adaptada para isso.
O evento foi importante, não só, mas também, nesse sentido. “A importância desse evento é justamente a inclusão das pessoas com deficiência, fazendo com que elas tenham acesso às informações que todos têm. Mas é bom principalmente para a sociedade. Como nós temos poucas políticas públicas que promovem acessibilidade cultural às pessoas com deficiência, a sociedade acaba não convivendo com a diversidade. Quando ela [sociedade] aprende sobre o outro, diferente de si, e interage com ele, ela só tem a aprender.” diz Bell Machado.