Papo com Legenda Podcast

PAPO COM LEGENDA: Disponíveis os episódios 01 e 02.

EP. 01 – Audiodescrição (Graciela Pozzobon e Lívia Motta) (Lançamento 30 de setembro de 2021)

Roteiro: Gabriel Leite; Júlia Ferreira; Lucinea Villela; Natália Sena; Walesson Almeida

Apresentação: Lucinéa Villela e Aniele

Transcrição: Ana Laura Dias, Luiza Hidalgo

LUCINÉA: Olá, pessoal! Está começando o “Papo com Legenda”, um podcast sobre acessibilidade audiovisual. Esse podcast é um dos projetos do grupo de pesquisa do CNPq “Mídia Acessível e Tradução Audiovisual” (MATAV), liderado por mim desde 2013.

Nosso podcast surgiu como um meio de tentar difundir um assunto que é muito importante, mas que infelizmente não recebe a atenção merecida em nosso país. Abordaremos não somente os recursos de acessibilidade como a audiodescrição e a dublagem, mas também apresentaremos projetos que possuem como alvo a inclusão por meio de mídia sonora.

Daremos início com um episódio sobre audiodescrição, mas nos episódios seguintes bateremos um papo sobre dublagem, sobre alguns projetos bacanas como o Lembrei de Você e o Movimento Web para Todos e falaremos também do acesso da pessoa com deficiência visual ao conteúdo cultural. Por fim, finalizamos a temporada com uma roda de conversa com alunas e alunos que passaram pelo MATAV.

Bom, feita essa breve introdução, vamos para o nosso Papo?

LUCINÉA: Olá, pessoal! Bem-vindo, bem-vindas e bem-vindes ao primeiro episódio do nosso podcast “papo com legenda”. Eu sou a Lucinéa Villela, sou coordenadora do Grupo de Pesquisa Mídia Acessível e Tradução Audiovisual, sou docente de língua inglesa da FAAC/Unesp, campus de Bauru.  Eu sou uma mulher de 51 anos, sou baixa, tenho cabelos curtos, encaracolados e castanhos. Tenho os olhos castanhos, uso óculos, estou sentada em meu escritório, ao fundo duas estantes com os meus livros.

ANIELE: E eu sou a Aniele, curso Design de Produtos, desde 2019 na UNESP de Bauru, sou uma mulher de 26 anos, com 1.65 de altura, de cabelos cacheados e curtos, possuo olhos castanhos e estou sentada na frente de meu computador, dentro de meu quarto.

LUCINEA: Bom, no episódio de hoje, vamos dar início de fato a nossa jornada pelo universo da acessibilidade. E o tema de hoje é audiodescrição. A audiodescrição é considerada uma modalidade de tradução audiovisual acessível que tem como função principal traduzir em palavras elementos visuais, presentes nos mais diversos contextos artísticos, culturais, pedagógicos, políticos, entre tantos outros. Para enriquecer o debate, contaremos com duas convidadas: Graciela Pozzobon e Lívia Motta, as duas são audiodescritoras e são pioneiras dessa modalidade de tradução audiovisual.

ANIELE: É isso aí, Lucinéa! Mas antes de conversarmos com nossas convidadas, vamos introduzir um breve histórico do tema para que você possa aproveitar melhor o nosso conteúdo ao longo do episódio e, por fim, seguiremos para a entrevista.

O audiodescritor americano Joel Snyder defende que as primeiras experiências em descrição de imagens foram realizadas na pré-história por familiares e amigos próximos de pessoas com deficiência visual. Eram ações isoladas, feitas de forma não-profissional mas que buscavam oferecer igualdade entre videntes e não videntes.

No contexto radiofônico dos Estados Unidos houve registros na década de 1940 de ações isoladas como a iniciativa do prefeito de Nova Iorque Fiorello Laguardia que descreveu as imagens de quadrinhos para os ouvintes durante uma greve dos jornais.

Em 1981, Margaret Rockwell e Cody Pfanstiehl foram os pioneiros a realizar audiodescrição para uma peça teatral no Arena Stage Theater de Washington, resultado das diversas ações do Programa Washington Ear´s AD. A partir desta iniciativa, alguns programas da televisão americana começaram a adotar a AD.

Em seguida, a audiodescrição chegou à Inglaterra, começando por um pequeno teatro chamado Robin Hood, em Averham, Nottinghamshire, onde as primeiras peças foram narradas.

Posteriormente países como França, Espanha e Alemanha também começaram a adotar a AD nas produções televisivas e cinematográficas. Hoje encontramos AD em todos os continentes do mundo, valendo destacar projetos inéditos como o Audio Description Association em Hong Kong, China, coordenado pela audiodescritora Dawning Leung.

Em seus quarenta anos de existência, o recurso de locução (ao vivo ou gravada), que nasceu como um apoio a pessoas com deficiência visual, tornou-se um campo de pesquisa complexo e desafiador e teve seu status reconhecido como disciplina autônoma em congressos como o Advanced Research Seminar on Audio Description (ARSAD), sediado desde 2007 pela Universidade Autônoma de Barcelona.

LUCINÉA: É isso, aí! A audiodescrição é bastante importante, ainda mais para nós que estamos inseridas no meio audiovisual.

No próximo bloco falaremos um pouco sobre as equipes e formação dos profissionais envolvides nessa produção e para isso contaremos com a participação de Graciela Pozzobon e Lívia Motta.

ANIELE: Vamos para um breve intervalo e voltamos já!

Lucinéa: Acompanhe o Instagram do nosso podcast em @papocomlegendapara saber quando saem os novos episódios e no @matav_unesppara ficar por dentro das novidades e notícias sobre acessibilidade.

ANIELE: Estamos de volta para o nosso segundo bloco.

LUCINÉA: Depois de entendermos um pouco da história da audiodescrição e sua aplicação como recurso de acessibilidade, conversaremos com Graciela Pozzobon e Lívia Motta, que são duas audiodescritoras e pioneiras da AD no Brasil, para entendermos, também, o histórico recente da audiodescrição no nosso país, assim como suas experiências pessoais atuando na área, focando na AD para carnavais, que é um diferencial da atuação delas no Brasil. Antes de começarmos nossa discussão, agradeço muito pela participação de vocês e por aceitarem o convite para iniciarem nosso podcast, Papo com Legenda. Vocês podem se apresentar e se descrever para nosso público por gentileza? Você pode começar, Graciela?

GRACIELA:

Primeiramente, agradeço o convite da Lucinéa, uma querida amiga e uma pessoa que já está há bastante tempo envolvida com essa questão da acessibilidade, fazendo um trabalho acadêmico muitíssimo importante, e saudar a Lívia Motta, minha querida amiga, parceira, minha musa e querida colega de trabalho.

Eu sou uma mulher de baixa estatura, tenho 1,60 metros, tenho os cabelos na altura do ombro, um pouco lisos, de cor castanho-escuro. Tenho a pele branca, olhos grandes de cor castanho-esverdeada e sou de peso mediano.

LÍVIA:

Boa tarde, Lucinéa e Graciela! É um prazer muito grande estar com vocês hoje para este bate-papo sobre audiodescrição.

Eu sou uma mulher branca, de pele clara, tenho os cabelos loiros de corte Chanel, curto, os olhos verdes, uso óculos e tenho uma estatura mediana de 1,68 metros.

LUCINEA:

Obrigada! Lívia, aproveitando, você poderia contar um pouco sobre qual foi a sua motivação para entrar no mundo da audiodescrição e como foi seu primeiro contato com a área? Depois, também vou pedir para a Graciela falar um pouco sobre isso. Lembrando que o papo com legenda é para um público leigo. Queremos alcançar pessoas que aprendam com o episódio o que é a audiodescrição.

LÍVIA:

Então, eu comecei a trabalhar com pessoas com deficiência visual em 1999, ensinando inglês, um trabalho voluntário que comecei a fazer na Laramara, uma instituição referência para pessoas com deficiência visual aqui em São Paulo. Nessa época, eu era coordenadora do Yázigi, uma escola de inglês, e já tinha feito meu mestrado sobre formação de professores de inglês e, quando comecei esse trabalho de ensinar inglês para alunos cegos, com baixa visão, foi um desafio. Foi uma coisa que me chamou bastante a atenção, porque eu nunca havia tido uma convivência mais estreita com pessoas com deficiência visual nem ensinado uma pessoa com esse tipo de deficiência. Então, tudo o que acontecia nessa sala de aula chamava muito a minha atenção e provocava reflexões; me levava a pensar e repensar a prática pedagógica.

No ano seguinte, eu fui fazer meu doutorado sobre esse tema. Durante o doutorado, fiz uma bolsa sanduíche na Universidade de Birmingham, no Reino Unido. Foi lá que tive meu primeiro contato com a audiodescrição em uma loja do Royal National Institute For The Blind. Eu vi vídeos com audiodescrição, em VHS, e aquilo me chamou bastante a atenção. Então eu pesquisei materiais e mais coisas sobre o recurso e, quando voltei, aqui no Brasil já se falava um pouco sobre a audiodescrição. E, de fato, o primeiro evento com a audiodescrição no Brasil data de 2003, com a Graciela e a Lara Pozzobon, no Rio de Janeiro, com o festival “Assim Vivemos”.

LUCINEA:

Legal! Agora, então, Graciela, conte um pouco para a gente o que te tocou para entrar na audiodescrição.

GRACIELA:

A minha aproximação com a audiodescrição foi bem pitoresca, porque aconteceu meio por acaso. Minha formação é como atriz e, posteriormente no bacharelado, fiz a licenciatura também em artes cênicas. Então, em 1999, estava entre atuar e fazer os estágios para começar a ser professora de teatro, que era algo que também me interessava muito. Estava no meio daquele encaminhamento profissional, quando fiz um filme chamado “Cão Guia”, que já virou um clássico, e nele eu interpretei uma personagem cega. Não é um filme sobre cegueira, não é um documentário, não é um filme sobre a questão dos cegos. É simplesmente um filme de ficção, uma história de amor em que a personagem feminina é uma moça cega.

Então, por conta desse curta-metragem, que foi o meu primeiro filme e o primeiro filme do Gustavo Acioli, que é o diretor e que, depois, junto com a Lara Pozzobon, virou, posteriormente, o diretor do festival “Assim Vivemos”, eu fui ao Instituto Benjamin Constant. Lá fiz aulas de reabilitação, ganhei minha bengala, saí na rua com o professor para aprender quais as referências do ambiente para as pessoas cegas poderem se orientar na rua; enfim, fiz esse laboratório como atriz.

Esse filme fez uma carreira muito surpreendente. Ele foi convidado para festivais nacionais e alguns internacionais. Um deles foi um festival alemão, em que a Lara e o Gustavo foram acompanhando o filme, e ele era com filmes sobre deficiência. Eles chegaram lá e ficaram encantados, pois nunca imaginavam que pudesse ter uma produção tão potente e mundial sobre o tema da deficiência, bem como um recorte que produzisse um festival exclusivamente sobre esse tema. Voltando para o Brasil, eles propuseram um festival semelhante para o Centro Cultural Banco do Brasil.

No festival alemão nem havia audiodescrição. Existia uma dublagem dos filmes estrangeiros para as pessoas cegas, das falas e dos diálogos. Então, a Lara veio com essa ideia sem nem ter visto algo lá no festival alemão que descrevesse as imagens. Assim, como eu tinha feito em “Cão Guia” e me aproximado dessa temática e como eu vinha da atuação, ela me propôs essa ideia: “quem sabe você encara esse desafio de fazer uma descrição das imagens dos filmes para as pessoas cegas que forem ao cinema, porque eu quero muito convidá-los”.

Nós nem chamávamos de audiodescrição na época. Era um nome enorme, algo como: narração interpretada com voice-over das falas.

É muito importante dizer que o festival “Assim Vivemos”, desde sua primeira edição em 2003, oferece a audiodescrição em todos os filmes. São cerca de 30 filmes e, como a maioria é estrangeira, a gente precisa oferecer, também, uma dublagem, que é o voice-over, ou seja, são todos os diálogos, além da descrição propriamente dita.

LUCINEA:

Lívia, aproveitando um pouco o que a Graciela falou dessa história e evolução, o que você pode nos contar da sua transformação e evolução como profissional?

LÍVIA:

Eu gostaria de completar essa importante fala da Graciela. A gente foi começando tudo com muita proximidade das pessoas com deficiência visual. Acho que isso trouxe um grande diferencial para a audiodescrição brasileira, porque ela foi se desenvolvendo junto com as pessoas com deficiência visual. Isso foi muito importante.

Eu sempre digo que a audiodescrição brasileira se estruturou nos pilares da pessoa com deficiência, dos profissionais já envolvidos com a prática e do pessoal da Academia.

Respondendo a sua pergunta de como a audiodescrição modificou a minha vida, eu digo que foi uma mudança radical, um verdadeiro turning point, porque eu sempre fui envolvida com o ensino e aprendizagem de língua estrangeira. Comecei como professora, depois como coordenadora de uma escola de inglês, depois como coordenadora regional da Unidade do Yázigi de São Paulo e da grande São Paulo. Então, tudo foi se modificando radicalmente com essa proximidade com as pessoas com deficiência visual; essa experiência de ensinar inglês e depois o encontro com a audiodescrição. Fui mudando completamente a minha área de estudos, de atuação e o meu trabalho.

Eu era professora e coordenadora de curso de universidade por conta do doutorado e do mestrado. Mas, aos poucos, fui deixando cada vez mais essas atividades para me dedicar exclusivamente a audiodescrição, que tanto me motiva e me alegra, porque é uma atividade que traz um grande benefício, uma abertura de mundo para as pessoas com deficiência visual, que não tem como não nos entusiasmar. A gente faz e já consegue ver o benefício causado. A alegria dessa possibilidade de participação e igualdade de condições já ali, direto, faz com que a pessoa já se manifeste entusiasmada. Então foi realmente um turning point.

LUCINEA:

No próximo bloco, falaremos sobre como é feita a audiodescrição nos carnavais do Rio de Janeiro e São Paulo.

ANIELE:

Vamos para um breve intervalo e voltamos já.

ANIELE:

Para acompanhar nossos textos sobre acessibilidade e as transcrições dos episódios do Papo Com Legenda, acesse o nosso blog em: matavunesp.wordpress.com

ANIELE:

Estamos de volta para nosso último bloco e agora vamos falar um pouco sobre a produção da audiodescrição nos carnavais do Brasil.

LUCINEA:

E, por falar em alegria e recepção alegre desse recurso, vou já colocar como nossa próxima pauta a questão da audiodescrição do Carnaval, na qual vocês duas têm grande experiência e que é um dos maiores eventos ao vivo do mundo. Então, para matar um pouco a curiosidade, gostaria, começando pela Graciela, que vocês compartilhassem como tem sido essa experiência de vocês, quantas vezes vocês produziram a audiodescrição no carnaval no Rio e alguns desafios.

GRACIELA:

Nós fizemos audiodescrição na Sapucaí em 2011, 2016 e 2018. Para quem quiser, está tudo documentado em vídeos no Youtube. É só procurar “audiodescrição na Sapucaí” e colocar o ano para ver nossos vídeos com o registro do trabalho.

Podemos começar falando dos desafios a partir da questão da grandiosidade do evento, da quantidade de informações e fatores envolvidos, das dificuldades, que sempre tivemos, em acessar plenamente todas essas informações e como que a gente conseguiria fazer um trabalho bem-feito em condições que nem sempre são as ideais.

A questão de uma contratação desse tipo de serviço, se tratando do carnaval do Rio, é sempre feita muito em cima da hora. As três vezes que fizemos, nós não tivemos uma boa antecedência para fazer uma preparação completa, como gostaríamos. E isso acontece muito por conta da distribuição do orçamento do evento. Então, acaba sendo uma correria. Às vezes nem é a irresponsabilidade dos gestores, porque às vezes eles mesmos querem muito fazer, mas acaba mesmo caindo nas questões orçamentárias e ficando em cima da hora.

Algo que eu gostaria muito de ter feito, e que nunca conseguimos fazer direito, seria ir visitar todos os barracões com calma e ver os carros. Teve um ano que uma das nossas audiodescritoras teve acesso a uma escola importante e foi dar uma olhada. Mas isso tudo é muito sigiloso, então teria que ser algo oficial, com uma autorização pela Prefeitura, e isso nunca conseguimos fazer de maneira plena.

Então, o que a gente recebia? Nós recebíamos aquele material completo, que vai para as emissoras televisivas, contendo todas as informações dos enredos, das escolas, das alas, dos temas, do que o carnavalesco pensou, como foi a trajetória do carnavalesco para chegar àquele tema. Depois, os sambas, o samba-enredo, a escolha do samba e todos os elementos que ele está utilizando para formar aquele universo dos carros alegóricos, das fantasias e da quantidade de pessoas nas alas. A essas informações a gente sempre teve acesso com antecedência, e foi a partir disso que sempre fizemos o nosso estudo. Então, essa preparação é algo muito importante do nosso trabalho.

A segunda coisa que procurei, e que acho fundamental, é ter pessoas na equipe que entendessem de carnaval. Não basta ser um bom audiodescritor e não ter essa vivência, essa aproximação com o carnaval, porque ele não vai ter a linguagem, não vai ter essa esperteza de saber uma coisa quando a ver. Então procuramos trazer para a equipe pessoas que entendessem de carnaval. Nós sempre trabalhamos em dupla e mais uma pessoa de coringa, caso acontecesse alguma coisa, porque é uma jornada grande, de mais ou menos 12 horas de trabalho. Então, eram cinco audiodescritores por noite. Nessa equipe, eu mesclava uma pessoa que fosse bastante experiente com uma pessoa que talvez nem entendesse muito de audiodescrição, mas soubesse bastante de carnaval. Esse esquema trazia um equilíbrio, pois um ia salvando, ajudando e complementando o outro. E foi isso que deu certo.

Outra questão bem importante é a técnica. Porque se você imaginar a quantidade de rádio, TV, emissora, canais, todas as informações e todas as tecnologias que têm lá dentro da Sapucaí, como fazer com que o som fique bom para o fone da pessoa cega para que ela possa ouvir bem o som da Sapucaí, mas também possa ouvir de forma agradável e harmônica a audiodescrição.

A primeira vez que a gente fez isso, nós fizemos três dias de testes, pedindo para o pessoal colocar o samba no volume que seria para conseguirmos chegar nesse equilíbrio. Então, essa também foi uma preocupação muito grande nossa e dos nossos técnicos, em fazer esse ajuste, porque não adianta a audiodescrição estar excelente e a pessoa cega estar incomodada, porque ou o som está muito baixo ou muito alto ou muito ruidoso.

No Rio, a audiodescrição acontece em um setor específico. Não é a Sapucaí inteira que tem acesso a esse áudio, mas só as pessoas que estão no setor da Prefeitura. Sempre recebemos muitas pessoas cegas, porque elas já iam muito antes de ter a audiodescrição, são cegos carnavalescos. E isso foi muito bonito, porque são pessoas que já acompanhavam e amavam o carnaval de repente chegaram lá e tinha a audiodescrição.

Nós vemos os depoimentos com comentários assim: “Meu Deus, eu já amava vir aqui só por causa do samba, do ritmo, da coisa contagiante, do clima, do ambiente, do samba, da dança e agora tem tudo o que eu não vejo no fone”. Então, realmente, é tudo muito bonito, emocionante, impactante, tocante e transformador, esse tipo de trabalho em que estamos junto das pessoas cegas.

Quando a gente faz uma audiodescrição em um filme ou série, também nos envolvemos, nos empenhamos, gravamos, procuramos deixar o produto lindo, mas não tem o encontro com o usuário, não está ao lado dele.  Nesses eventos grandes ou no teatro, a gente tem o encontro, a gente vê a pessoa, conversa, vê a emoção e ouve a pessoa falando. Acho que esse é o combustível que move.

LUCINEA:

Lívia, agora indo para São Paulo. Conte para a gente como foram as experiências.

LÍVIA:

Olha, foi uma experiência realmente surpreendente, foi algo fantástico! Nós fizemos 2019 e 2020, dois anos seguidos; no primeiro ano, 2019, nós fomos convidados pelas Meninas Dos Olhos, que já tinham tido essa experiência em 2017 e 2018. Então, elas já vinham com uma experiência dos anos anteriores e convidaram a gente para fazer parte desse grupo e fazer a audiodescrição do desfile do grupo especial das escolas de São Paulo, no Sambódromo do Anhembi.

Isso que a Graciela falou, de um tempo pequeno entre contratação e o evento, atrapalha bastante. No primeiro ano, 2019, nós tivemos quinze dias e trabalhamos com 6 audiodescritores, mas a gente se estruturou de uma forma para cada dupla pegar uma escola, visitar barracão, conversar carnavalescos e com coreógrafo, e já íamos nos ensaios e no sambódromo. Em 2020 isso já foi melhor, porque a gente teve um mês de antecedência. Mas, mesmo assim, houve uma dificuldade muito grande de acesso às informações, porque tudo isso é envolto em uma aura de sigilo total e de confidencialidade.

Então, foi uma coisa demais, mas, mesmo assim, a gente não esmorecia, viu? Íamos, por exemplo, em um ensaio no sambódromo, sentávamos ao lado de algum folião que era muito fã daquela escola e a gente já começava a bombardear a pessoa de perguntas. Então, a gente foi com várias fontes e fomos estruturando, porque cada escola é um espetáculo; é como se fosse um grande musical, com o enredo, as fantasias, os carros alegóricos enormes, maravilhosos. Só ali já dava não sei quantas páginas de roteiro, mas a gente também tinha que fazer uma adequação para a rapidez que a escola ia passando; quantas informações nós tínhamos que dar!

Nós fomos construindo modelos de roteiro. No primeiro ano trabalhamos com seis audiodescritores e um consultor; já em 2020, nós trabalhamos com sete audiodescritores, um consultor, um fotógrafo e uma pessoa do administrativo, que também ajudou bastante. Tinham várias pessoas assistindo no sambódromo, como a Graciela falou, somente no camarote da cidade, por que como é que nós vamos distribuir fones para todo o sambódromo, se aquela ala está passando na frente daquela arquibancada, daquele camarote? É aquilo que eles estão vendo. Quem está lá na ponta da arquibancada, em outro camarote, vai ver outra coisa.

Mas, nós tivemos também um diferencial nessa transmissão, que foi um projeto de acessibilidade da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, que incluía o samba com as mãos, ou seja, a interpretação em libras, e a audiodescrição. Então, além da transmissão para o sambódromo, nós também transmitimos para o Facebook, e foi muito legal porque pessoas do Brasil inteiro puderam ter contato com essa transmissão carnavalesca, foi sensacional! No primeiro ano 8.000 pessoas assistiram pelo Facebook, e em 2020, 15.000 pessoas. E foi muito legal, porque as pessoas interagiam com a Secretaria e com a gente, os audiodescritores. Enquanto uma dupla estava na cabine, outra dupla estava fazendo essa interação; e as pessoas pediam para falar mais, por exemplo, da rainha de bateria, e a gente ia acrescentando informações.

O Laercio Santana, que foi nosso consultor nas duas vezes, ele ficava no sambódromo no primeiro dia e, no segundo, no Facebook, passando as informações. Ele também ficava acompanhando o desfile pelo rádio e dava informações privilegiadas para a gente. Por exemplo, no ano de 2020 um dos carros enganchou em um cabo de força e o desfile foi todo paralisado; ninguém sabia por que estava acontecendo aquilo, mas a gente já sabia por que o Laercio tinha escutado no rádio e já tinha passado para a gente. Sensacional!

Agora, uma coisa que eu também gosto muito de falar é que eu nunca tinha ido assistir ao desfile no sambódromo. É uma experiência que todo mundo tem que ter, porque parece que o samba entra pelas veias, é uma coisa impressionante! Embora a gente tenha estruturado para as pessoas irem revezando, todo mundo ficava das 8 horas da noite às 8 horas da manhã, porque o pessoal ficava tão animado, tão empolgado, que já ficava ali direto. É uma emoção ver a Gaviões da Fiel entrar na avenida, aquela empolgação da arquibancada; é uma coisa fantástica, de chorar.

Nós tivemos consultores, verdadeiros professores de carnaval para nos dar informações, assim como pessoas que entendiam muito das religiões afro, dos orixás, sobre os adereços, como é que é essa escola e todas as partes. Tudo isso é muito importante, porque fomos formando verdadeiros repertório, além do que a gente já tinha das Meninas dos Olhos, que já haviam feito isso durante dois anos; então, nós fomos ampliando isso.

A gente também fez uma coisa que ficou muito legal, que foi a gravação das notas introdutórias; por exemplo, meia hora antes da escola entrar, naquele intervalo que tem entre uma escola e outra, tanto pessoal do Facebook como o pessoal que estava no camarote da cidade já ouvia as informações sobre a escola, sua ficha técnica, o samba, o enredo, as cores, o número de participantes, a alas e muito mais. Tudo isso já com fundo musical do samba enredo, o que ficou muito bacana já que a gente gravou tudo e deixou tudo arrumadinho. Foi muito legal, um grande aprendizado! Tanto é que, na primeira escola que eu fui fazer a narração, o meu queixo estava caindo e meu filho me mandou uma mensagem dizendo: “mãe, menos, menos”. Porque a empolgação era tanta na narração e nós audiodescritores estávamos deslumbrados com aquele espetáculo! É uma experiência fantástica! Nós também temos registrado esses dois anos em vídeo, lá no Youtube da Ver com Palavras, e vale a pena assistir para ver e conhecer o trabalho. Foi sensacional, aprendemos e gostamos muito!

LUCINEA:

Não tem como não se contagiar ouvindo vocês duas. Eu fico pensando como deve ser energizante e renovador para todas essas pessoas terem acesso a essa riqueza cultural que só tem no Brasil!

Eu queria fazer uma pergunta para vocês, que eu fiquei pensando quando eu pautei esse tópico de carnaval com audiodescrição: Qual será a próxima oportunidade que todos nós brasileiros e vocês, como profissionais da audiodescrição, vão ter para poder fazer a audiodescrição de um grande evento? Eu queria ouvi-las, pois vocês são muito otimistas com a área de acessibilidade, passando por tudo que temos passado, e sei que vocês estão produzindo audiodescrição e acessibilidade para o país nesse período. Então, eu queria ouvir primeiro da Graciela se há alguma possibilidade de a gente pelo menos, a médio prazo, voltar a ter um evento como esse com a audiodescrição e ao vivo, e o que as suas empresas, a Lavoro e a Cinema Falado, estão fazendo para as pessoas que precisam ter esse acesso, mesmo na pandemia.

GRACIELA:

Bom, tivemos que nos adaptar como todo mundo, mas realmente não parou, porque como a gente faz também muita coisa em audiovisual, as produções continuaram a acontecer. Claro, teve aquele primeiro momento no início de 2020 que realmente deu aquela parada, aquele março e abril que ficou todo mundo meio sem saber o que iria acontecer, mas em seguida começou a retomada das acessibilidades no audiovisual, nas séries e nos filmes. Nós começamos, então, a receber as solicitações das acessibilidades nas lives, nos seminários on-line e em todos esses acontecimentos remotos, que eram presenciais e passaram a ser no formato remoto na pandemia. E aí foi outra adaptação e outro aprendizado, porque como é que pode acontecer a audiodescrição ao vivo? Funciona ou não funciona? Como que funciona? É melhor em algumas ocasiões pegar o evento já acontecido ao vivo, colocar audiodescrição na pós-produção e oferecer às pessoas com deficiência? Algumas vezes sim, essa opção é melhor; outras vezes, dá para fazer ao vivo, com audiodescritores em uma janelinha, como intérprete de libras. Cada caso a gente foi avaliando, pensando e ajudando os realizadores a como disponibilizar da melhor forma; então, tudo foi muito adaptado nesse momento.

Uma coisa muito boa que aconteceu para a gente em 2021 foi a edição especial do festival “Assim Vivemos” on-line, que é presencial e acontece nos centros culturais do Banco do Brasil. E por conta da Lei Aldir Blanc emergencial nós conseguimos a aprovação para fazer uma edição extra, on-line. E tivemos essa experiência, esse desafio com a audiodescrição, agora inteiramente gravada, com voice-over gravado, com a libras gravada, com a legenda colocada nos filmes, e fizemos essa edição do festival inteiramente remoto, que ainda está disponível, e vai continuar, no site www.assimvivemos.com.br; para quem quiser ver, está lá. E a gente pretende que seja uma plataforma que vamos continuar alimentando ao longo das próximas edições.

Além disso, está prevista a 10ª edição do “Assim Vivemos” presencial, no segundo semestre deste ano. Então, qual é a ideia do Centro Cultural Banco do Brasil? Eles estão abertos, com todas as medidas restritivas e com menos público, mas eles estão nos propondo fazer uma edição que seja híbrida, ou seja, todos os acontecimentos que envolvem grupos e muitas pessoas, como os debates e as oficinas, nós provavelmente faremos de forma on-line. É ótimo poder fazer os debates on-line porque a Lara, que sempre mediou os debates, está nos Estados Unidos e pode participar. Isso é muito legal, porque amplia o nosso leque de possibilidade de profissionais, pois antes quando era presencial, a gente ficava restrito às cidades onde o festival acontecia; dessa forma, não. Podemos convidar pessoas que estão em qualquer parte do mundo, então adaptou-se muito bem. Além disso, a gente amplia o acesso de público para pessoas do Brasil inteiro, que é uma questão que o festival “Assim Vivemos” presencial tem; a gente não tem o direito de distribuição dos filmes, então os filmes acontecem nas sessões e a gente não tem como distribuí-los.

São prós e contras; por um outro lado, o festival “Assim Vivemos” sempre foi um festival que priorizou e que teve muita potência nessa questão do encontro. O presencial do “Assim Vivemos” é muito forte, porque a gente convida instituições, pessoas e escolas que pouco saem das suas instituições e escolas; são pessoas que tem pouquíssimas oportunidades de sair dos seus ambientes porque são instituições muito pobres e em locais muito carentes. Então, tirar essas pessoas das instituições e levar para um centro cultural que é lindo, que tem exposição, que tem o lanche depois, que tem a sala de cinema, que tem a conversa e que tem escuta, porque o festival “Assim Vivemos” sempre deu a voz às pessoas com deficiência, é algo que só o presencial permite. No on-line, por outro lado, pessoas do Brasil inteiro, que nunca tiveram acesso ao acervo do festival, podem acessar o conteúdo de forma on-line. A gente vai caminhando e nos adaptando, mas essa é uma notícia, de que ter o “Assim Vivemos” no segundo semestre, provavelmente nessa forma mais híbrida.

O prefeito do Rio está animado e diz ele que no ano que vem vai ter carnaval e réveillon; e, bom, se ele diz que teremos esses eventos e for seguro, iremos atrás incomodando e dizendo “tem que ter acessibilidade, tem que ter acessibilidade”.

LUCINEA:

Agora, Lívia, nos conte dos seus projetos.

LÍVIA:

Nós tivemos, logo que começou essa pandemia, uma parada muito grande, porque eram tantas as emergências e urgências do setor cultural que acessibilidade ficou para trás mesmo. A Graciela falou que voltou lá para junho, mas nós demoramos um pouco mais, foi lá para outubro que a gente começou. Mas, nesse meio tempo, antes de voltar mesmo o trabalho, eu fiquei dando muitas palestras para a Secretaria da Educação e trabalhando muito com os professores, que estavam vivenciando essa situação novíssima de interagir com seus alunos mediados pelas telas; como que é audiodescrição poderia ser uma ferramenta de acessibilidade que poderia contribuir. Então, eu trabalhei com Secretaria da Educação de diversos estados, o que eu acho que é uma coisa super positiva que esse on-line trouxe; essa possibilidade de ter contato com pessoas de diferentes partes do país, que não poderiam estar participando de determinada palestra ou curso.

Depois, a gente foi voltando com os festivais; fizemos festival de teatro, de cinema, lives, muitas lives, e fomos aprendendo a utilizar esse ambiente virtual para disponibilizar o recurso de acessibilidade: “Vai ser aberto? Todo mundo vai assistir?”. Então, tiveram ocasiões em que as pessoas estavam assistindo a determinado espetáculo ou live, ou espetáculo de dança, e se incomodavam e colocavam no chat: “por que que a gente tem que escutar essa voz?”. Mas estamos sempre disponibilizando com acessibilidade em um lugar sem acessibilidade em outro; era no Youtube, Facebook, Vimeo, Instagram e por aí vai.

Também fizemos peças on-line, e foi muito legal a experiência. Fizemos agora nesse começo de ano o Cultura Inglesa Festival, que foi também muito legal, e o Festival Internacional de Vídeo Dança. Uma outra experiência que nós tivemos também, que foi fantástica, foi o curso de formação de consultores em audiodescrição em parceria com o NCB, Organização Nacional dos Cegos do Brasil, com a Ágora Brasil. Participaram 88 alunos cegos e com baixa visão para serem consultores, do Brasil inteiro. Foi sensacional! Nós tivemos vários professores, já consultores, como a Elizabeth Dias de Sá, o Felipe Monteiro, a Roseli Garcia, a Cristiana Cerchiari e o Laércio Santana; todos foram professores do curso junto comigo. Foi muito legal preparar um ambiente virtual de aprendizagem com o Laércio, que é um especialista em acessibilidade digital e que trabalhou junto com a Débora, que é uma designer instrucional da Universidade Federal de Juiz de Fora. Nós já havíamos trabalhado juntas, em um curso de aperfeiçoamento sobre audiodescrição na escola; então, ela e o Laércio prepararam esse moodle, que é acessível, mas não tanto. Então, eles foram melhorando essa usabilidade e foi muito legal; foi uma experiência muito desafiadora.

E a gente está pensando em quando iremos retomar para o presencial, porque nós fazemos cerca de quatro espetáculos por semana, seja ópera, concerto, peça ou espetáculo de dança. No final do ano passado, a gente chegou a fazer alguma coisa no Teatro Alfa, fizemos O Quebra Nozes, uma peça infantil e algumas apresentações do maestro João Carlos Martins, mas com os teatros respeitando muito essa coisa do afastamento e espaçamento entre cadeiras, por exemplo. Mas aí veio de novo essa segunda onda, muito forte, e tudo fechou novamente; mas, já está programado para o segundo semestre retomar a Sala São Paulo, que foi também um trabalho muito bem-sucedido, que sempre tem um número de pessoas com deficiência visual muito grande assistindo aos concertos. Mas, vamos ver se retomamos no segundo semestre

Em relação ao Carnaval, o governador tinha falado que havia sido adiado para o meio do ano, mas isso não vai acontecer em hipótese alguma. Então estamos reaprendendo a fazer algumas coisas, buscando novas possibilidades, fazendo muita exposição em museus, que também tem aplicativos, exposições virtuais, para estar alcançando mais pessoas e muitos espetáculos gravados, como espetáculos de dança e vídeo-dança. E é isso, sem parar com o nosso trabalho e esperando que a acessibilidade volte a florescer, certo Graciela? Porque eu acho que muitos dos ganhos que tivemos até aqui ficaram meio paralisados; então, a gente tem que fazer um esforço grande para retomar do ponto em que estávamos. Não sei, eu acredito que vai ser difícil.

GRACIELA:

Sim, se soma a questão da acessibilidade à retomada do teatro, como um todo. Antes, nós tínhamos o teatro acontecendo e a luta da acessibilidade para acompanhar as produções, as temporadas, os Teatros municipais, estaduais e privados, toda essa conversa. Agora, nós não temos os espetáculos, então a retomada vai ser de forma global; está todo mundo parado, todo mundo esperando. Aqui no Rio nem teve essa retomada que São Paulo teve um pouquinho e depois fechou de novo. Então, eu acho que esse movimento é um movimento que vai ser grande e que vai ser lento, não vai ser de uma hora para outra. As coisas vão ter que se adaptar às questões orçamentárias das cidades, que estão muito voltadas para Covid; vão ter que se ajustar e recuperar muitos orçamentos que foram destinados para as questões da pandemia. Mas, o caminho está aí, vai ser percorrido e eu acho que aos poucos a gente vai conseguir organizar a vida, voltar ao teatro, voltar ao público e voltar a acessibilidade.

LUCINEA:

Sim, com segurança e bastante equilíbrio.

Eu queria agradecer, em nome do nosso podcast Papo com Legenda, e fico superfeliz por essa conversa, pelas pessoas que vocês são e pela história que vocês têm na acessibilidade na audiodescrição no Brasil.

Encerramos, então, nosso primeiro episódio, e deixo também aberto para vocês falarem as últimas palavras. Lívia?

LÍVIA:
 Lucinéa, agradeço muito pela oportunidade e pela conversa muito boa! Adorei reencontrar a Graciela, de quem já estou com muitas saudades, fazia tempo que não nos falávamos! Muito obrigada aos meninos, que estão operando, aos alunos, ao Gabriel. Muito obrigada! E esperamos em breve estar tomando um ótimo café, regado à muita prosa. Muito obrigada.

LUCINEA:

Graciela?

GRACIELA:

Eu também agradeço, é superimportante bater esses papos, conversar e trocar ideias; nos fortalece, eu acho, enquanto profissionais. Lu, também, que está aí na universidade fazendo toda essa movimentação com os alunos, que bom! Siga e vamos juntos! Nosso material tem bastante coisa no YouTube, o Instagram do Cinema Falado e o Facebook do “Assim Vivemos” também, para quem quiser dar uma olhada, acompanhar e ver as notícias, que assim que tivermos certeza das datas do segundo semestre a gente já começa a postar e a divulgar; já temos a seleção dos filmes, que a Lara já fez a curadoria e já assistiram a mais de 1.000 filmes que se inscreveram e foram selecionados 29. Então, já temos essa seleção feita e a gente vai divulgando pelas redes e pelos nossos canais. Quem quiser acompanhar é só seguir lá.

ANIELE:

Muito obrigada, Graciela e Lívia pela presença de vocês, foi excelente ter vocês aqui para nosso episódio!

LUCINEA:

Muito obrigada às duas pela conversa e finalizamos por aqui! Não se esqueça de conferir nossas redes sociais e nosso blog para as entrevistas transcritas. Até o próximo episódio!

O Papo com Legenda é um podcast original do MATAV, o Grupo de Pesquisa em Mídia Acessível em Tradução Audiovisual. Para ficar por dentro dos nossos lançamentos e de mais novidades, acompanhe em nosso Instagram @papocomlegenda

PAPO COM LEGENDA
EP. 02 – Dublagem (Vitor Mello)
(Lançamento 07 de outubro de 2021)

Transcrição: Ana Laura Dias, Letícia Santos, Luiza Hidalgo

LUCINÉA: 

Olá! Bem-vindo, bem-vinda e bem-vinde ao segundo episódio do nosso podcast “papo com legenda”. Eu sou Lucinéa Villela, sou uma mulher de 51 anos, tenho cabelos castanhos curtos, olhos castanhos escuros. Uso óculos e estou em meu escritório. Estou vestindo uma calça de moleton preta e uma blusa de manga longa preta.

ANIELE: 

E eu sou a Aniele. Sou uma mulher de 26 anos, cabelos curtos e cacheados da cor castanha, meu olhos também são castanhos. Hoje eu estou no meu quarto sentada na frente de meu notebook.

LUCINÉA: 

No episódio anterior falamos um pouco sobre a história da audiodescrição com Graciela Pozzobon e Lívia Motta. Foi um papo super legal e, se você ainda não ouviu, corre lá e confira na sua plataforma digital preferida. Mas só depois que esse acabar, hein?! 

ANIELE: 

No episódio de hoje, vamos continuar a nossa jornada pelo universo da acessibilidade. E o tema de hoje é dublagem.

LUCINÉA: 

A dublagem surge como um recurso de acessibilidade, a partir do momento em que a distribuição de filmes em língua estrangeira atinge diversos cantos do mundo. Com isso, o recurso permite o consumo num alcance multicultural. E para entender um pouco mais sobre dublagem, no próximo bloco contaremos com Vitor Mello, ator, dublador e modelo. 

ANIELE: 

Mas antes de chamar o próximo bloco, vamos aprender um pouco sobre a origem e a importância da dublagem no nosso “Legenda aí para Mim”.

O primeiro filme falado que misturava intertítulos e alguns diálogos foi “ O cantor de Jazz”, dirigido por Alan Crosland, lançado em 1927. Por isso, a história da dublagem se confunde com a história do cinema sonoro. 

Nessa década, ocorreu a tentativa de distribuição de filmes em língua inglesa para o mundo todo, supondo que essa seria a “língua universal”. Uma verdadeira utopia 

etnocêntrica em uma época em que apenas 5% da população mundial falava inglês. A legendagem também era considerada um recurso elitista, tendo em vista que na década de 1930 havia milhões de espectadores no mundo que eram analfabetos. No Brasil, o índice era crítico. Em 1920, 65% da população acima de 15 anos era considerada analfabeta.

Dessa forma, a dublagem se torna um recurso de acessibilidade educacional e social no meio cinematográfico, a partir do momento em que os filmes de língua inglesa teriam versões em diversas outras línguas.

No entanto, a dublagem era malvista e rejeitada no meio artístico pois muitos 

Diretores defendiam que o recurso poderia limitar a representação artística do cinema. 

Aos poucos a qualidade técnica da dublagem foi se aprimorando, e na década de 1950, com a criação das diferentes trilhas de som, dublar em outras línguas se tornou um negócio rentável e uma prática relativamente fácil. 

A dublagem no Brasil teve seu marco em 1938 com a versão em português do desenho animado Branca de Neve. Um dos primeiros estúdios de dublagem no nosso país foi a Herbert Richers S.A., criada em 1946. Antes disso, as gravações eram feitas coletivamente, com todos os atores juntos no estúdio e olhando para a mesma tela. Nas décadas seguintes, algumas séries clássicas americanas, como “os Flintstones” e  “Scooby-Doo”, ganharam suas versões dubladas em português. 

Já a década de 1990 foi marcada pelas dublagens brasileiras de animes. A primeira empresa responsável pelas séries “Cavaleiros do Zodíaco” e “Dragon Ball” foi a gota mágica. Além de serem responsáveis pela 2ª dublagem brasileira da aclamada série mexicana “Clube do Chaves”. 

LUCINÉA: 

Com certeza você que nos ouve já teve algum contato com a dublagem brasileira! Principalmente quando relembramos dos desenhos da nossa infância. Que  saudade, né? E isso só reforça o que aprendemos no quadro anterior, onde o nosso primeiro contato com os produtos audiovisuais se dá por meio da dublagem. 

ANIELE: 

Concordo! Saudade demais, Lucinea! Lembro de todos esses desenhos e é realmente importante ter esse contato com a língua porque ajuda muito na nossa formação! 

No próximo bloco,  conversaremos com o Vitor Mello para nos aprofundar no universo da dublagem! 

WALESSON: 

Acompanhe o Instagram do nosso podcast em 

@papocomlegenda para saber quando saem os novos episódios e no 

@matav_unesp para ficar por dentro das novidades e notícias sobre acessibilidade.

LUCINÉA: 

Olá, estamos de volta para o nosso segundo bloco. No bloco anterior aprendemos sobre a história e a origem da dublagem como modalidade de tradução audiovisual, agora, para nos aprofundarmos um pouco mais nesse assunto, conversaremos com Vitor Mello, que é um dublador já com longa experiência. Antes de começarmos nosso bate-papo, pedimos para que você, Vitor, fale um pouquinho de você e que também se audiodescreva para o nosso público.

VITOR: 

Oi, gente! Eu sou Vitor Mello, tenho 22 anos, sou um homem alto de cabelo castanho claro e olhos castanhos. Eu estou sentado no meu escritório, com uma camiseta preta de manga curta e com um roupão.

Eu trabalho com dublagem há 8 anos, desde os meus 14 para 15 anos. Na mesma época, eu tinha começado a trabalhar com teatro também, eu levei isso meio que em uma carreira conjunta, e hoje eu vivo só de trabalho de voz; somente de dublagem, de locução, de narração, de voz original e trabalhos relacionados a isso.

LUCINÉA: 

Vitor, você falou rapidamente do início da sua carreira, da sua profissão na dublagem, mas eu queria que você nos contasse também o que mais te encanta nessa sua profissão como dublador e algumas experiências que te marcaram muito nesse período já longo da sua carreira.

VITOR: 

Bom, eu acho que o que mais me encanta na dublagem, enquanto ator, é poder viver vários personagens diferentes no mesmo dia; como é um trabalho muito rápido e a gente trabalha por hora, por conta, os estúdios solicitam determinadas horas do nosso tempo para realizar cada tipo de trabalho. Eu consigo realizar às vezes, em um dia, quatro, cinco ou seis personagens diferentes! Isso para um ator é incrível, você ter várias experiências diferentes em um mesmo dia e inúmeras experiências que, talvez, você não vivenciasse no teatro, na TV ou em alguma outra forma de trabalho de ator.

Enquanto pessoa, eu acho que o que mais me encanta na dublagem é o nosso aprendizado individual mesmo; eu acho que a dublagem, ao nos possibilitar viver vários personagens, nos obrigada a sermos mais empáticos e a nos colocarmos no lugar desses personagens e entender realidades que, às vezes, são muito distantes da nossa. Então, eu acho que isso, para o nosso crescimento pessoal e para a nossa empatia, é algo muito importante.

Alguns dos maiores trabalhos que eu fiz foram o Sam, de Atypical, que eu gravei a última temporada agora e é sobre a vida de um menino que tem Síndrome de Asperger; eu também fiz o Valério, da série Elite, o Alex, de Julie and the Phantoms, e o Carlos, de High School Musical: A Série. Que eu me recordo, no momento, são esses.

LUCINÉA: 

Ótimo, Vitor! Agora, a gente vai tocar em um assunto mais sensível da história da dublagem. Quando a gente estuda a história da dublagem, vemos que em muitos países, inclusive no Brasil, houve regimes ditatoriais que impuseram o uso da dublagem para banir a entrada de línguas e culturas estrangeiras no país, principalmente filmes americanos. Ou seja, a gente teve um fascismo muito atrelado à dublagem e por muito tempo. Você acha que nós, no Brasil, conseguimos superar esse triste episódio ou a dublagem ainda apaga as marcas culturais dos originais, de uma maneira voltada para a censura? O que você pensa sobre isso?

VITOR: 

Olha, eu acho que hoje em dia isso depende muito de qual é o cliente que solicitou esse trabalho e de qual diretor foi designado para determinado trabalho. A minha visão, e a visão de muitas pessoas na dublagem hoje em dia, é que o nosso trabalho é trazer acessibilidade para as pessoas que não conseguem ver o conteúdo em voz no idioma original, não conseguem ler legendas enquanto estão assistindo, pessoas de idade mais avançada, crianças e deficientes visuais.

Então, o que a gente sempre busca é justamente deixar o mais próximo do que foi feito no trabalho original, porque se algumas pessoas se preocuparem em censurar, em cortar determinadas palavras ou não lidar com determinados assuntos, iremos mudar e deturpar a obra original. Isso, para mim, é algo inconcebível e eu acho que é também, hoje em dia, para a grande maioria das pessoas que trabalham com dublagem e os estúdios.

Eu não me recordo de nenhuma vez que eu fiz isso dentro de um estúdio ou que eu precisei cortar alguma coisa. Algumas vezes, devido à classificação indicativa, a gente corta um palavrão ou outro, o que eu também acho que acaba sendo algo que não é necessário, porque se foi dito no original deveria ser repetido na dublagem também. Mas, com exceção desses pequenos detalhes de palavrão e de classificação indicativa, eu acho que a gente já não passa mais por isso, graças a Deus! Felizmente!

LUCINÉA: 

Que bom! É um avanço deixar esse passado ditatorial para trás. Focando nessa questão da acessibilidade, já que você mencionou, o podcast Papo Com Legenda tem como foco principal debater a acessibilidade e inclusão no audiovisual, e você fez um lindo trabalho como dublador do Sam, que é o protagonista de Atypical. Eu gostaria que você falasse um pouquinho. É uma série que eu assisti a primeira e a segunda temporada, adorei. Então eu queria que você nos contasse como foi essa experiência e qual foi o seu preparo especificamente para dar voz ao Sam.

VITOR: 

Quando a gente fala de preparo na dublagem, é algo extremamente complicado. Embora seja um trabalho artístico, a gente trabalha pelo resultado e pela entrega rápida do produto. Agora em homestudio está um pouquinho diferente, mas, na maioria da vezes, íamos gravar um determinado produto ou um determinado personagem e não sabia o nome dele, quem era, nem sobre o que era a série. A gente descobria tudo isso no estúdio. Então, se torna um trabalho muito sensível justamente porque a gente não consegue ter o que o ator faz, como levar o roteiro para casa, estudar, entender o personagem. Por isso, você tem que ser muito sensível a todos os estímulos que recebe durante a gravação para conseguir fazer um bom trabalho, tentar trazer uma naturalidade e não deturpar a obra, porque eu acho que quando não se consegue chegar na emoção que o personagem pediu, a gente também está deturpando a obra de alguma forma.

O Sam foi um personagem muito especial para mim, porque, além de tudo, ele foi o primeiro protagonista que eu tive na minha carreira. Eu gosto de dizer que se a gente assiste Atypical, é possível ver a evolução do meu trabalho da primeira temporada até a última que foi gravada este ano. E isso para mim é muito importante! Mas o que eu gosto do Sam especificamente é que eu acho que ele mostrou para as pessoas como é ter a visão de alguém com Síndrome de Asperger. Eu, em vários momentos enquanto gravava, me pegava pensando: “Nossa, para ele é tão difícil passar por isso, ir para a faculdade, participar de uma festa da escola. Isso para mim foi sempre tão normal que nunca passou pela minha cabeça que alguém poderia ter dificuldade com isso”.

Então eu acho que o lance da representatividade também está muito em fazer a gente se colocar no papel de entender a realidade do outro, porque às vezes ela é tão distante do que se imagina, que nem passa pela nossa cabeça como é isso. E quando se passa a enxergar isso de outra forma, talvez a gente esteja caminhando para uma melhora enquanto ser humano para facilitar a vida dessas pessoas, tornar a vida delas mais acessível. Também acho que foi importante para que pessoas com Síndrome de Asperger pudessem ver um personagem igual a elas na TV. Eu acho que as pessoas com Asperger foram retratadas durante muito tempo de uma maneira muito semelhante a personagens gays e negros no começo, como algo cômico, para as pessoas rirem. E hoje a gente consegue entender que não é para rir disso, é uma pessoa. Então isso foi muito importante.

LUCINÉA: 

É, eu acho que havia uma tradição, triste até, de tornar esses personagens caricatos e acaba se tornando um preconceito também na área do audiovisual.

Eu tenho uma curiosidade: Você sabe de algum caso no Brasil de dubladores que sejam pessoas com deficiência visual e que dão voz e trabalham de forma profissional, ou até outros tipos de deficiências. Existe alguma pessoa com deficiência como dublador?  

VITOR: 

Infelizmente, a única pessoa que eu ouvi, nem cheguei a ver trabalhando com dublagem, foi uma menina que tem   Síndrome de Down, na série Eu Nunca da Netflix que solicitou que a dubladora original, que tinha gravado o personagem com Síndrome de Down na primeira temporada fosse trocada por uma pessoa que realmente tivesse Síndrome de Down. Então, essa primeira dubladora fez uma voz guia, gravou todos os episódios primeiro e a garota foi ao estúdio, trabalhou com dublagem seguindo a voz guia que foi feita pela dubladora anterior.

Agora, com relação a pessoas com Síndrome de Asperger, tem um dublador, inclusive aqui em São Paulo, que é diretor de dublagem também, chamado Pedro. Ele fez Os Backyardigans, bastante coisa, dubla há muito mais tempo que eu. Inclusive ele veio falar comigo a respeito do Sam, porque eu nem sabia que ele tinha Síndrome de Asperger, descobri depois. Então, do meu convívio, pelo menos aqui em São Paulo, eu acredito que somente o Pedro com Síndrome de Asperger e essa garota que eu não conheci que fez um trabalho exclusivamente.

Eu ainda acho que o mercado de dublagem é muito fechado para pessoas com deficiência e acho que parte disso seja devido à questão de trabalhar pelo resultado. Não só com deficiência, mas qualquer pessoa que está começando enfrenta muitas dificuldades no mercado, porque eles exigem que você produza rápido e em grande quantidade e quando a gente fala de uma pessoa com deficiência que, pelo menos a princípio, vai ter algumas limitações, eu acho que torna tudo isso mais difícil. Eu, na verdade, nunca encontrei com uma pessoa que tivesse algum tipo de deficiência buscando trabalhar com dublagem. Talvez nem passe pela cabeça dessas pessoas. O problema já começa aí. A gente não tem nem pessoas com deficiência buscando trabalhar nesse mercado. 

LUCINÉA: É uma pena, mas que legal que pelo menos dois casos você consegue mencionar no contexto de São Paulo.

Por fim, Vitor, a gente tem aqui um dado bastante preocupante do Censo de 2010. O Brasil tem um índice de 18% da população com algum tipo de deficiência visual, ou seja, no Brasil 500 mil pessoas enxergam absolutamente nada. Então, a dublagem e a audiodescrição são os únicos recursos que permitem a essas pessoas o contato com filmes e séries estrangeiras.

Nesse contexto, como que você pensa na dimensão e na importância do seu trabalho de dublador como sendo uma possibilidade de inclusão e de acessibilidade para tantas pessoas?

VITOR: 

Acho que nesse sentido eu sempre fui muito privilegiado, porque os profissionais que já trabalhavam com dublagem, que me ensinaram e que trabalharam comigo desde o começo, sempre me alertaram sobre isso. 

Acho que muitas vezes enquanto ator, enquanto profissional, nós fazemos o nosso trabalho e simplesmente não nos damos conta da dimensão que ele tem. E quando a gente para e pensa no nosso país, no índice de pessoas que têm deficiência visual, no número de pessoas que são analfabetas ou semianalfabetas e que é um país que não dá recursos para que a maioria das pessoas tenha uma segunda língua a fim de que elas possam assistir as coisas no idioma original sem a legenda, posso dizer que o nosso trabalho democratiza o lazer. Então sempre quando entro no estúdio eu penso que a minha voz vai ser o panorama para alguém entender como é o universo daquilo que estou gravando. 

E eu sempre levo isso com muito carinho, porque, eu não tenho muito tempo de profissão para dizer isso, mas já ouvi isso acontecer no caso de dubladores mais experientes que contaram para mim, que o trabalho de dublagem está muito atrelado ao emocional das pessoas. Principalmente dessas pessoas que tem deficiência visual, que são analfabetas e que precisam do recurso da dublagem para conseguirem acesso a esse material.

Então, eu sempre levo muito a sério, porque às vezes pode ser só mais um trabalho para mim, mas para alguém aquilo pode significar muito. Eu posso gravar um programa de carro que não vai ser importante para mim, mas que para alguém que tenha deficiência visual e que seja fissurado em carros, vai ser muito importante sentir que o meu personagem gosta de carros, porque é isso que ele faz no original.

Então eu acho que nesse trabalho a grande maioria dos profissionais pensa nisso, mas, também, que a gente ainda está muito longe de entender a dimensão que isso tem. Acho que se você conversa com profissionais da dublagem, embora saibam disso, eles não sabem o índice de brasileiros que têm deficiência visual, quantas pessoas são analfabetas ou qual o índice de pessoas que preferem o conteúdo dublado. Acho que tudo isso faz parte do nosso trabalho. O nosso trabalho é muito mais do que enxergamos e muito mais do que fazemos dentro da cabine. 

LUCINÉA: 

Que bacana! É um trabalho muito bonito. Acho que quem trabalha na formação de futuros profissionais do audiovisual também tem essa responsabilidade e missão de alertar como cada uma das modalidades, seja dublagem ou legendagem, alcança milhões de pessoas que têm impossibilidades ou deficiências auditivas ou visuais.

Vitor, você quer acrescentar ou defender mais alguma coisa sobre a dublagem? Porque a gente prima muito pelo profissionalismo dos dubladores no Brasil.

VITOR: 

Ultimamente, as pessoas têm me marcado e eu tenho visto muitos posts de pessoas falando que “preferem o conteúdo original legendado, porque a dublagem é horrível e não serve para nada”. E, em defesa da minha profissão, eu queria dizer que se você está ouvindo esse podcast e conhece alguma pessoa que pensa dessa forma, peça para ela ouvir esse episódio e para ela procurar saber um pouco mais sobre o trabalho de dublagem, porque a dublagem vai muito além de você gostar ou não do conteúdo dublado. Ela é justamente isso: Acessibilidade.

Então, se a dublagem é irrelevante para você que sabe um segundo idioma e que consegue ler enquanto assiste, não tem problema! Assista legendado e está tudo bem! Mas acho que falar mal de um trabalho que é tão importante para tantos brasileiros e para tantas pessoas ao redor do mundo, é algo muito sério e que tem que ser repensado.

Lucinéa: Valeu por essa tarde, muito obrigada. Essa nossa super entrevista com o Vítor nos dá uma nova perspectiva para expandir os horizontes da dublagem e suas funcionalidades. Para quem começou a acompanhar o podcast agora, este é nosso segundo episódio. E no episódio anterior, trouxemos essa mesma abordagem, porém com foco na audiodescrição. O objetivo do nosso podcast Papo com Legenda é tratar em todos os episódios sobre inclusão e acessibilidade para as pessoas com deficiências visuais e auditivas. Para isso, estamos mesclando algumas modalidades como dublagem, legendagem e também vamos fazer alguns episódios dessas várias modalidades.

Aniele: Trazer entrevistas com profissionais tão capazes como o Vítor, Graciela e Lívia Motta enriquece também nossa busca por tornar nosso podcast também mais acessível. Mal posso esperar para o episódio da próxima semana.

LUCINÉA: É isso aí, Aniele. Não se esqueçam de seguir nossas redes e seguir o @papocomlegenda e o @mello_vitor

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